As estrelas estão sorrindo

*Felipe Pereira


Existe um barco que navega entre o tempo e o espaço, sem se incomodar com as leis regidas pela física e os mandamentos do universo. O nome desse barco é Divagação. Às vezes embarco nele e viajo para tempos longínquos dos meus dias pueris.

Quando estou nessa embarcação, vejo os dias alegres da minha infância, que outrora fora um porto seguro diante dessa tempestade que é a minha vida.

Certa noite, navegando pelas águas já conhecidas, avistei uma cena, como se o transporte que eu estava estivesse diante de um ancoradouro. O meu eu infantil estava sentado na calçada, contemplando as estrelas. Eu fazia muito isso quando era criança.

O meu eu menino olhava apaixonado para os pontinhos brilhantes no céu, certo de que as estrelas também olhavam-no.

Enquanto as águas agitavam calmamente sob o casco do barco, eu vi minha mãe se aproximando do garotinho na calçada. Ela o olhou gentilmente e com voz de anjo perguntou:

— O que você tanto olha para o céu?

— Estou vendo as estrelas. Um dia eu quero ser um astronauta.

— Para quê? — Minha mãe indagou sorrindo.

— Para ficar mais perto das constelações.

— O que elas têm que te cativa deste jeito?

O meu eu criança olhou para minha mãe, um sorriso dançava em seus pequenos lábios, pronto para dar uma resposta que há tempo estava bem ali, apenas esperando ser dita:

— Porque todos os dias, as estrelas sorriem para mim. — A criança voltou a fitar o céu, com a mulher ao seu lado fazendo o mesmo. Os dois ficaram em silêncio, admirando a paisagem celestial.

Dentro do barco, uma lágrima escorreu pela minha face. Hoje eu já não tenho mais a inocência, há muito eu a perdera. Meus dias têm sido marcados por tormentas. Meu único refúgio é navegar com o Divagação e atracar nesses poucos momentos em que fui feliz.

*Estudante de contabilidade e morador de Nova Andradina

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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